Estagflação: em tempos de incerteza, alimente a alma!
Temos vivido tempos diferentes, com muitos desafios. Como consequência, nos últimos tempos, tem sido mais difícil ser empresário.
Há cerca de 2 anos, o aparecimento da pandemia perturbou o desenvolvimento empresarial em Portugal, na Europa e no mundo.
Mais recentemente, quando finalmente a situação parecia melhorar, surge uma guerra.
Estagflação
Para além de todos os desafios que as empresas já enfrentavam: escassez de mão de obra, escassez de matéria-prima, o aumento dos preços da matéria-prima, etc., enfrentamos agora um problema económico mais abrangente e atípico: a ESTAGFLAÇÃO.
O que estamos a antecipar é que, aparentemente, vamos passar por um período marcado por uma recessão económica acompanhada de uma elevada inflação.
Nós, empresários, todos os dias sofremos com isto.
Diariamente, tenho várias reuniões com empresários e o que me parece é que os empresários estão a ficar um pouco desmoralizados e desmotivados.
Como reagir a esta desmotivação? Como dar a volta?
Gostava de partilhar convosco uma reunião que tive com um empresário esta semana, em que o mesmo partilhava comigo que começou o ano otimista e quando sentia que tudo estava estabilizado veio a guerra.
No seu caso, embora não tenha ainda sido afetado em termos de matéria-prima, foi afetado do ponto de vista psicológico dos clientes.
Sente que os clientes estão pouco focados nos novos projetos e que cada vez mais adiam as decisões. Este facto tem muito a ver com toda a turbulência económica e social que se vive e que se reflete no receio geral de que as coisas não corram bem.
Perante este cenário mais cinzento, nós, empresários, temos que sair desta nuvem, olhar para dentro e procurar forcarmo-nos naquilo que controlamos, conhecendo o que não controlamos.
4 pontos de reflexão para não se deixar desmotivar
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Encontrar o seu porquê
Perceber que legado quer deixar enquanto empresário, o que quer atingir com a sua vida de empresário, porque é que é um empresário.
Este fator é muito pessoal e tem que ser encontrado em cada um de nós. Mas é também este fator que vai fazer com que nunca desista.
Como já tenho referido aqui, o livro de Viktor Frankl, “O Homem em Busca de um Sentido”, é um livro que relata a sua experiência nos campos de concentração e aborda precisamente este tema. Aconselho vivamente a sua leitura.
O que o livro nos transmite é a convicção de que quem conseguiu ultrapassar os tempos difíceis vividos nos campos de concentração não foram os mais fortes, mas sim as pessoas que tinham uma intenção e um propósito bem definidos.
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Olhar para as oportunidades
Parece um cliché, mas em todos os momentos de crise aparecem oportunidades.
Porquê? Porque quando está tudo bem, tendemos a repetir o mesmo comportamento. Já nos momentos de crise é quando repensamos muita coisa e damos grandes saltos que trazem resultados disruptivos.
Esteja muito atento ao que se está a passar à sua volta. Veja quais os desafios que são novos e como os consegue resolver.
Sobre este tema recomendo o livro de Andrew Grove, “Só os paranoicos sobrevivem”, no qual o autor examina o percurso da Intel, um grande fabricante de chips que, devido a uma feroz concorrência japonesa, esteve à beira da falência. Foi o facto de perceber que tinha que abandonar a zona de conforto e criar um produto diferente que fez da Intel o que conhecemos hoje.
Observe a concorrência, compreenda quais os caminhos que essa mesma concorrência está a trilhar para perceber se o pode afetar, e o que pode fazer para que não o afete.
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Redesenhar a estratégia e a tática
Estratégia
Este é um exercício que normalmente proponho que seja feito no início do ano.
Contudo, quando os fatores externos mudam significativamente, deve parar e pensar estrategicamente.
Para isto, aconselho a “velhinha” análise SWOT (strenghts, weaknesses, opportunities, threats).
Deve analisar à luz de todas as alterações, qual é o seu nicho de mercado, que produtos vai desenvolver, como está a sua concorrência, qual é a sua proposta de valor, como irá mostrar aos clientes aquilo que o diferencia.
Tática
Depois deste passo, há que redesenhar a tática.
Depois de saber para onde quer ir, tem que definir o passo a passo.
Delinear, do ponto de vista mais tático, qual será o plano de execução.
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Garantir a execução consistente
Para isto, é crítico que o primeiro ponto seja muito forte.
É aqui que a maior parte das empresas falha. Tem as ideias, mas não as executa diariamente.
Para este ponto, é muito importante o seu porquê. Se não tiver o seu porquê bem definido, não vai conseguir manter a execução consistente, pois estará constantemente a encontrar desculpas para perder o foco.
Deixo-lhe um texto que considero de enorme valor para o ajudar a superar esta crise: “A crise segundo Einstein”.
“Não pretendemos que as coisas mudem se sempre fazemos o mesmo.
A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e empresas porque ela traz progressos. A criatividade nasce da angústia como o dia nasce da noite escura. É nas crises que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias.
Quem supera a crise supera a si mesmo sem ficar superado.
Quem atribui a ela seus fracassos e suas penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções.
A verdadeira crise é a crise da incompetência.
O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis.
Sem crise não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É nela que se aflora o melhor de cada um.
Falar de crise é promovê-la e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalharemos duro. Acabemos de uma vez a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la.“
Albert Einstein